A temperatura está baixa, os termômetros marcam 7º C. Em São Paulo, são 21h00. Na esquina, é possível ver os faróis da Kombi que vai trazer a primeira refeição do dia. Antes de o veículo parar, os moradores pegam suas vasilhas e aguardam ansiosos. São 30 homens famintos.
Quando o carro estaciona, seis voluntários descem com duas panelas enormes, cheias de sopa de legumes com carne. Em fila, os moradores enchem as suas vasilhas. Sentam no chão e comem. Alguns repetem. A fome passou e agora, o que resta é dormir ao relento e aguardar a próxima refeição.
Segundo Willian Amaral de Jesus, voluntário há 10 anos, a doação da sopa é feita três vezes por semana.
Mas, essa tradição pode acabar. A Prefeitura de São Paulo planeja acabar com a distribuição do “sopão” nas ruas de São Paulo. “O intuito é fazer com que as entidades a façam de maneira adequada, com higiene e em locais apropriados”, explica o Secretário Municipal de Segurança Urbana, Edsom Ortega.
De acordo com a proposta da Prefeitura, as 48 instituições que promovem esse trabalho beneficente, no prazo de 30 dias, não poderão mais entregar o alimento nas ruas do centro. O “sopão” passará a ser distribuído em uma das nove tendas da Prefeitura, conhecidas como espaços de convivência social, que atendem pessoas sem teto.
Assim que foi anunciada a possível proibição, moradores de rua e ONGs começaram a protestar em redes sociais. Ângela dos Santos, que mora na rua há dois anos, é contra a proibição. “Como o morador vai até a tenda? E se for longe? Vou ter que passar fome?”, questiona.
Para o Presidente do Movimento Estadual da População em Situação de Rua em São Paulo, Robson Mendonça, a distribuição de alimentos sem higiene é inadmissível, porém as tendas não têm capacidade para atender a demanda. São 20 mil moradores de rua. “É dever do poder público proporcionar atendimento pleno para os moradores, porém as medidas adotadas pelo Sr. Ortega, com o apoio da Prefeitura, são sem nenhuma sensibilidade com essas pessoas”, esclarece.
A Associação Viva o Centro também se pronunciou sobre o assunto. Não é a favor da distribuição
descontrolada da sopa. Para a instituição, as ONGs devem informar, de forma clara, o número de pessoas que pretendem atender, o tipo de alimento que vão distribuir e com que frequência farão isso. “Entendemos também que a Prefeitura deve indicar quem é o responsável por encaminhar a solução dessa questão, tanto internamente quanto junto ao público interessado”, conclui o superintendente da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida.
descontrolada da sopa. Para a instituição, as ONGs devem informar, de forma clara, o número de pessoas que pretendem atender, o tipo de alimento que vão distribuir e com que frequência farão isso. “Entendemos também que a Prefeitura deve indicar quem é o responsável por encaminhar a solução dessa questão, tanto internamente quanto junto ao público interessado”, conclui o superintendente da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida.
IMPASSE
Para o Ministério Público de São Paulo, a possível proibição é inaceitável.
Em defesa, a assessoria da Prefeitura divulgou uma nota reforçando que não se trata de proibição, mas de um convite às entidades para que passem a atuar nas tendas.
DENÚNCIA
Algumas ONGs doam o alimento em garrafas PET cortadas ao meio. Apenas a minoria oferece
material descartável.
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